Leituras Filosóficas



Meu amigo: 
Escrevo-te para daqui a um século, cinco séculos, para daqui a mil anos... É quase certo que esta carta te não chegará às mãos ou que, chegando, a não lerás. Pouco importa. Escrevo pelo prazer de comunicar. Mas se sempre estimei a epistolografia, é porque é ela a forma de comunicação mais directa que suporta uma larga margem de silêncio; porque ela é a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo. Além disso, seduz-me o halo de aventura que rodeia uma carta: papel de acaso, redigido numa hora intervalar, um vento de acaso o leva pelos caminhos, o perde ou não aí, o atira ao cesto dos papéis e do olvido, ou o guarda entre os sinais da memória.

"Estamos instalados na vida como se nós próprios não existíssemos, como se fôssemos o próprio mundo que existe, a própria realidade que é, a sua presença absoluta de estar sendo. E a simples reflexão de que é o mundo que depende de nós, de que a sua maravilha está suspensa, para nós, do nosso olhar, dá-nos vertigens. Que admira que uma pequena invenção técnica nos perturbe, nos abra a velha interrogação? Eis que depois de abarcarmos a terra, de a colocarmos na mão como a pequena bola de um deus poderoso, depois de nos confrontarmos nas nossas raças, nos nossos sonhos milenariamente solitários, depois de esgotarmos a nossa procura mútua, eis que acabamos de rasgar os espaços até lá de onde a nossa imaginação descobre o vazio que nos circunda, descobre, num arrepio, o nosso pobre globo perdido na poeirada dos astros, recorda, com uma nova evidência, a infinitude das distâncias que o unem ao universo. E uma vez mais a velha angústia de um Lucrécio, de um Pascal, em face da eternidade da noite, nos desvaira de aflição. Possivelmente, meu amigo, quando esta carta te chegar às mãos, se chegar, estarás tu já instalado em indiferença no meio de quanta nova invenção que não sabemos nem imaginamos."

Recomenda-se a leitura!

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Contradições .... Será importante pensar as contradições ? Porquê?








Um excelente livro! para trabalhar em diferentes contextos e para diferentes públicos ... as abordagens terão de ser diferentes... mas é possível. 

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Estou cego, estou cego, repetia com desespero enquanto o ajudavam a sair do carro, e as lágrimas, rompendo, tornaram mais brilhantes os olhos que ele dizia estarem mortos (…). O cego ergueu as mãos diante dos olhos, moveu-as, Nada, é como se estivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de leite, Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco, ….”




Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como «um rastilho de pólvora». Uma cegueira coletiva. Romance contundente. Saramago a ver mais longe. Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica. ( Fonte: Fundação José Saramago)

NOTA: Este livro é trabalhado tanto nas aulas de filosofia ( no âmbito da filosofia existencialista) como de psicologia. (no âmbito das emoções). Inicialmente os alunos apresentam algumas resistências, mas depois de ler o livro, verem o filme e pesquisarem.... o entusiasmo é visível. Apresentam  abordagens diferentes, mas  todas as leituras são muito interessantes. 

Aqui ficam algumas sugestões para exploração:

Que valores religiosos são transmitidos na obra? Haverá lugar para uma luz divina? 

A pior cegueira é a dos que não sabem que estão cegos. 
(Clarice Lispector)

  • A afirmação de Clarice Lispector terá algum significado na compreensão da obra Ensaio sobre a Cegueira?

  • Que personagem mais gostaram? Porquê? 



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"1984 oferece hoje uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas. A electrónica permite, pela primeira vez na história da humanidade, reunir nos mesmos instrumentos e nos mesmos gestos o trabalho e a fiscalização exercida sobre o trabalhador. O Big Brother já não é uma figura de estilo - converteu-se numa vulgaridade quotidiana."

1984 foi um dos romances mais influentes do século XX. Interpretado por muitos como uma profecia escatológica de uma sociedade dominada por um governo totalitário, esse livro marcou o imaginário social de uma época em que o mundo havia sido abalado pelo horror de duas Grandes Guerras, e a previsão de um terceiro conflito global aterrorizava a todos.

Este é um livro que costumo trabalhar nas aulas de filosofia ( 10º ano), no âmbito da filosofia política, , os alunos fazem uma apresentação à turma de organizam um debate.
Nem todos os alunos aceitam o desafio de ler o 1984... mas depois do debate , muitos ficam curiosos.

Alguns desafios lançados aos alunos:

  •  Relacionar as questões sociais e políticas, apresentadas na obra, com o contrato social de Hobbes.
  • Que papel desempenha a leitura nas sociedades totalitaristas?
  • Relacionar a obra, exemplificando com passagens, com a dicotomia público versus privado

  • Apresente 3 razões para sugerir a leitura aos colegas….
  • Recolha de 3 cartazes alusivos à obra, ao Big Broher… e relacioná-lo com os perigos e/ou desafios da propaganda. 

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